terça-feira, 14 de março de 2017

Alice no País da Heroína.

Ainda não tinha dedicado uma posta a uma das minhas bandas preferidas dos anos 90. O que se pode fazer? Teenager nos 90 corria-se o risco de ouvir - e apreciar? - uma das muitas bandas de grunge que surgiram nessa década. Mas os Alice in Chains são muito mais do que uma banda de um movimento definido temporalmente. Rock duro, poucas cedências ao comercial, grandes músicos e harmonizações vocais muito bem criadas entre Jerry Cantrell e Layne Staley. E por trás toda uma história de conflitos, drogas, álcool e separações.

Não os vi nos 90 mas ainda os apanhei por cá, no Super Bock Super Rock de 2006, a fechar uma quente noite de Verão que teve também Deftones, Placebo e Tool. Infelizmente já sem o vocalista original, o concerto não defraudou e terminou em beleza uma grande noite de rock.

Para os Alice, o grande carrossel do reconhecimento mundial e mediático começou logo em 1990, com "Facelift", o primeiro álbum grunge a chegar ao Top50 da Billboard e que trouxe muitos novos ouvintes para este sub-género que começava então a surgir. Na verdade, o início não foi fácil, visto que a banda se viu incluída em tours de grupos como os Megadeth ou Slayer, facto que originou muitos assobios e problemas com as audiências dos concertos, que queriam coisas mais pesadas e que ainda não estavam viradas para o som grunge, que só um pouco mais tarde seria um enorme fenómeno, o que aconteceu após a edição de "Nevermind" dos Nirvana.



Em 1992 já as condições estavam lançadas para que "Dirt" tivesse um sucesso enorme a nível mundial, com mais de 5 milhões de cópias vendidas e grandes singles como "Down in a Hole", "Them Bones, "Angry Chair" ou "Would?". Paradoxalmente, a banda passava por uma crise violenta, decorrente do uso excessivo de drogas, álcool e anti-depressivos. A nível da produção, "Dirt" teve também diversos problemas, com o produtor Dave Jarden - que já tinha trabalhado com bandas como Talking Heads, Frank Zappa, Red Hot Chili, Jane's Addiction ou Rolling Stones - a ter muita dificuldade em controlar as dependências dos diversos elementos, em especial do Layne Staley que injectava heroína no estúdio e em plenas gravações. Incrivelmente "Dirt" viu a luz do dia e revelou-se um grande álbum.





O álbum homónimo de 1995, que também ficou conhecido como "The Dog Record" ou "The Dog Album", foi o primeiro sem o baixista Mike Starr - que saíra da banda devido ao consumo excessivo de drogas e que entretanto morreu, em 2011, devido a uma overdose - e o último com Layne Staley como vocalista, visto que após este LP o rapaz nunca mais conseguiu recuperar dos seus maus hábitos acabando por falecer em 2002.

"The Dog Record" tem menos elementos do heavy metal clássico, apostando mais numa produção cuidada, texturas melódicas, variações atonais e extensas trocas entre modos maior e menor. Mas seria o último da banda no seu layout  tradicional.

De notar que para além destes três álbuns, os Alice também tiveram um "MTV Unplugged", editado em 1996 e diversos EPs, nomeadamente "We Die Young" (1990), "Sap" (1992) - donde saiu este "Got Me Wrong" - e "Jar of Flies" (1994).



De 1996 a 2002 há um longo hiato, apenas quebrado pela notícia da morte de Staley. Entretanto, os outros membros da banda vão entrando em projectos paralelos, sendo que o maior destaque vai para os dois álbuns a solo de Jerry Cantrell, "Boggy Depot" de 1998 e "Degradation Trip" de 2002, ambos com uma sonoridade muito próxima da dos Alice in Chains e em própria antevisão ao que seriam os próximos anos da banda.

Desses dois álbuns de Cantrell ficam os singles "Cut You In" e "Anger Rising"





Em 2005 os Alice passam a reunir-se esporadicamente e a tocar algumas músicas com convidados, casos de Phil Anselmo, Maynard James Keenan ou William DuVall. Este último ficaria mesmo como elemento permanente da banda e vocalista principal do álbum de 2009, "Black Gives Way to Blue", um óptimo regresso da banda, com o som típico dos Alice sempre presente.

Escrita em Fá menor, com as guitarras com forte "down tuning" e harmonizações vocais tão comuns nos Alice, "Check My Brain" foi um óptimo aperitivo para o retorno destes colossos do rock.



Chegamos assim ao último álbum da banda até à data: "The Devil Put Dinosaurs Here". Continua a ser Alice in Chains mas um pouco domado de mais para meu gosto. Esperemos pelos próximos capítulos.


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